Quarta-feira, 21 de Julho de 2010

25. António Pedro Vasconcelos

O cineasta, António Pedro Vasconcelos, na sua crónica, publicada em 9 de Julho de 2010,  no jornal     intitulada "A Recuperação Notável do Terreiro do Paço", começa por escrever assim:

 

"Se há uma área onde a acção política ainda pode ter relevância e onde a cultura tem um papel diferenciador, é na gestão autárquica. Hoje, os políticos têm uma margem de manobra limitada, pela delegação de poderes a Bruxelas, pelo peso obsceno dos interesses económicos sobre as opções políticas, pelo escrutínio cada vez mais demagógico dos media, pelo peso dos lobbies, pela falta de qualidade dos políticos da geração dos Jotas.

Quer se trate de pequenas câmaras ou de juntas de freguesia (e há exemplos notáveis, como Ferreira do Alentejo, Óbidos ou Ericeira), quer de grandes cidades, a seriedade, o empenho, o amor à cidade e, fundamentalmente, a cultura e o gosto são decisivos para preservar, transformar e fazer crescer as cidades de forma justa, harmoniosa e atraente.

 (...)"     

 

 Ora, com efeito, já em 16 de Junho de 2007, no mesmo jornal, ele dedicara a Ferreira do Alentejo e, em particular, ao elogio do trabalho da autarquia, a que eu presidi, uma crónica completa, com o título (surpreendente, embaraçante, reconfortante) "Um Exemplo de Gestão Autárquica".

 

Isso resultou da surpresa que foi para ele conhecer Ferreira do Alentejo (porque foi lá filmar cenas de "Call Girl") e a admiração que lhe causou as realizações da autarquia municipal concretizadas nos últimos anos.

 

Nunca me cruzei com o prestigiado realizador e intelectual, mais do que seja, virtualmente, para ler algumas das suas crónicas e ver alguns dos seus filmes.

 

Não nos encontrámos, nunca falámos, não somos conhecidos nem amigos.

 

A apreciação dele deve ser, obviamente, a de uma pessoa exigente, evidentemente conhecedora de muito  Mundo, e desinteressada de me agradar.

 

Para a (minha) pessoa (ainda que juiz em causa própria, cuidado!) essa apreciação espontânea, de um isento, é significativamente aprazível. 

 

O actual Presidente da Câmara, Aníbal Costa, também há-de ter ficado na mesma...

 

 

Reproduzo a seguir a crónica referida:

 

 

António Pedro Vasconcelos

Publicação: 16 Junho 2007

 

Um exemplo de gestão autárquica

 

A prospecção de locais para o meu próximo filme, Call Girl, levou-me a Ferreira do Alentejo. O filme, que se propõe ser uma versão moderna de O Anjo Azul, uma das mais célebres variantes sobre o tema da mulher fatal, passa-se num quadro de corrupção autárquica, numa pequena cidade imaginária do Alentejo. Em vez de um velho professor primário, austero e moralista, um autarca de bons princípios; em vez de uma cantora de cabaret, uma prostituta de luxo.
Uma das boas coisas do cinema é que nos põe em contacto com sítios e pessoas que, de outro modo, nunca teríamos conhecido. Neste caso, levou-me ao Baixo Alentejo, e permitiu-me descobrir um modelo de gestão autárquica digno de ser assinalado.

Presidida pelo Dr. Aníbal Costa, Ferreira possui um Museu que merece ser visitado. Ao contrário de muitas cidades espanholas, francesas ou italianas, a maioria das nossas cidades não oferece qualquer atractivo além de eventuais igrejas ou castelos. Ferreira está, desde há 12 anos, dotada de um Museu que é um exemplo do que se pode fazer para atrair visitantes e, ao mesmo tempo, dar aos jovens da terra um conhecimento da região, das suas origens e tradições.
Sob o impulso do autarca António Pita Ameixa, uma equipa de arqueólogos iniciou escavações que atestam a presença de várias civilizações na região, antes e depois do domínio romano. Não cabe aqui a enumeração das peças que compõem o museu, onde a apresentação é um exemplo de como se pode educar e cativar ao mesmo tempo o visitante. Além disso, o museu tem uma divisão dedicada a Michel Giacometti, um corso que se dedicou, nos anos 60 e 70, a fazer por nós o trabalho de recolher o repertório das canções populares do nosso folclore. E, para minha surpresa, exibe um Retábulo maneirista do século XVI, salvo pela intervenção da Misericórdia e posteriormente restaurado pelo museu, que constitui uma peça notável da nossa pintura renascentista.

Uma das brilhantes ideias do museu é envolver as populações, através do apelo ao seu contributo para as exposições temporárias, com peças que possuam; a outra, a de criar um espaço onde todos os sentidos são solicitados: a vista, os ouvidos, o olfacto e o próprio gosto.
Se acrescentar que se come divinamente em Ferreira, estou a dar mais uma razão para fazer uma visita à região. Comi uma açorda de tomate com bacalhau e uma sericaia como deve ser (sem ameixa em calda) n’O Páteo, um restaurante que aconselho que se apressem a conhecer, antes que os talibãs do ASAE dêem cabo dele, como ameaçam fazer aos poucos sítios deste país onde ainda se come com respeito pela tradição.

 

 

 

publicado por ameixablogue às 16:57
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Terça-feira, 13 de Julho de 2010

24. Regionalização Moderada.

A frase: "A regionalização não terá interesse se for para criar entidades políticas próprias, à espanhola, como se vê invejar por aí", foi a escolhida pela edição do jornal´'Público' (10 de Julho de 2010) para lead da crónica de opinião que escrevi intitulada "Regionalização Moderada".

 

Face a um certo reabrir do debate sobre este tema, apenas quis dar a minha opinião (que é a de sempre) de que será positiva uma descentralização, que pode ser baseada em entidades regionais (isto é, autarquias locais de grau superior aos municípios) se nos ativermos ao plano administrativo, e não político.

 

Para tal só servem regiões de dimensão não muito grande, face à escala do País (território e população continentais) e com atribuições e competências administrativas decididas pela autoridade dos órgãos de soberania.

 

Por outro lado, também me pareceu necessário e importante contestar a ideia, que vem circulando, de desadoptar o referendo de instituição da regionalização, bem como a ideia de instituir regiões piloto a titulo experimental.

 

 

Ficou assim:

 

 Público 2010.07.10

 

Opinião

Regionalização moderada

 

 O editorial do PÚBLICO, de 8 de Julho, apelava para que o debate da regionalização, que parece sobrevir, seja feito sem fantasmas.

Parece um desafio no sentido certo, mas o problema é que o surgimento do dito debate é uma repetição, que aparece sentada em cima de um fantasma - o do cadáver do referendo já realizado!

O exorcismo, receitado por alguns, é para expulsar dois espíritos maus - o da consulta popular e o da simultaneidade.

Referendo? Se o povo disse não, então retire-se o povo. Uma inspiração em Brecht: "Mude-se o povo, se não se pode mudar o Governo".

Depois, os mesmos que alegam que se trata de reorganizar coerentemente o território e a Administração, são os que defendem que se faça a regionalização aos bocados de cada vez e, até, que se institua (sem referendo, claro) uma região-piloto... para experimentar.

Como se pode experimentar a organização do território e a Administração? Vamos ter partes do território em desigualdade de regimes? Se não provar a conveniência, volta-se atrás. Como? Com que custos e consequências!? Como se decide isso? Ou a experimentação é farisaica?

Portanto, o exorcismo dos fantasmas está a dar nisto: fazer, na democracia, uma reforma à exclusiva vontade de alguns e a todo o custo.

Para esses, a regionalização parece ser, como diz o mesmo editorial do PÚBLICO, "uma religião salvadora". É por isso que a tratam como um fim que, por si, justifica todos os meios!

Ora, nem isso é aceitável, nem as coisas são assim tão absolutas. Acho que a regionalização moderada seria a melhor, porventura a viável.

A regionalização no continente é uma reforma que pode ter interesse se for para promover a descentralização administrativa (que é só o que diz a Constituição), não se for para criar entidades políticas próprias, à espanhola ,como se vê invejar por aí.

Pode ter interesse se não for neocentralista, substituindo o poder do Terreiro do Paço pela sofreguidão de outros Paços, mais ávidos ainda da sua afirmação egoísta à custa da alocação de novas e mais vastas periferias.

Pode ter interesse se criar condições de disseminar o poder administrativo para junto das populações, não se for para criar enormes e poderosas entidades políticas, majestáticas, mais focadas em tirarem desforra dos poderes do Estado ou contenderem entre si.

Pode ter interesse com regiões de características e dimensões semelhantes, não se forem Davides a legitimarem Golias.

Pode ter interesse assente em competências definidas pelos órgãos soberania, não se tiver características que permitam a cavalgada de uma "autonomia hard" a que, a propósito, se referiu Eduardo Lourenço.

Pode ter interesse se for histórica e culturalmente representativa do povoamento do território português, não se forem criações abstractas, tecnocráticas e políticas.

Pode ter interesse se não fizer a razia da organização sociocultural do país, das suas populações, construída em cima do território, em séculos, mas se a souber entender e respeitar.

E pode ter interesse se for o resultado de um processo democrático, participado e leal, não se a quiserem fazer como uma traição ao soberano povo.

 

Deputado do PS

 

 

publicado por ameixablogue às 15:55
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